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Opinião: “22 de Abril: A Data que Nos Une e que Insiste em Passar Despercebida”, por Carlos Lopes

"A Comunidade Luso-Brasileira não é apenas um elo simbólico entre o Brasil e Portugal. Ela é uma realidade viva, em constante expansão"


Carlos Lopes, presidente da Federação das Câmaras Portuguesas no Brasil
Carlos Lopes, presidente da Federação das Câmaras Portuguesas no Brasil

Hoje, 22 de abril, celebramos oficialmente o “Descobrimento do Brasil” — expressão que por si só já comporta debates históricos — e o Dia da Comunidade Luso-Brasileira. Contudo, o que deveria ser uma ocasião de profunda reflexão e celebração compartilhada entre povos historicamente entrelaçados passa, ano após ano, praticamente despercebida pelo grande público, pelas instituições e, o mais preocupante, pelo sistema educacional brasileiro.


Em tempos em que o mundo redescobre a importância das origens, da identidade e da pluralidade cultural, é quase paradoxal o silêncio que envolve esta data, justamente no país que, segundo estudos recentes publicados na revista científica American Journal of Human Biology, carrega em seu genótipo uma média de 80% de ancestralidade europeia — sendo cerca de 40% dessa influência atribuída diretamente à matriz portuguesa. Isso significa que algo próximo de 100 milhões de brasileiros possuem herança genética lusitana. Uma estatística que deveria ser celebrada, compreendida e valorizada.


Mas não é.


A Comunidade Luso-Brasileira não é apenas um elo simbólico entre o Brasil e Portugal. Ela é uma realidade viva, em constante expansão. Cresce a cada dia com o novo êxodo migratório de brasileiros para Portugal; com a concessão de nacionalidade portuguesa a descendentes; com a crescente massa de emigrantes que ali estabelecem família, criam raízes e contribuem para a economia, cultura e diversidade portuguesa. Portugal, por sua vez, passa a se moldar também à alma brasileira, num fenómeno de fusão que se repete ciclicamente ao longo de mais de 500 anos.


Ainda assim, essa comunidade continua a ser “invisibilizada” em termos institucionais. Carece de representação política efetiva, de políticas públicas integradas e de reconhecimento proporcional à sua dimensão histórica, cultural e económica. O sistema de ensino, por exemplo, ignora solenemente a importância da data de 22 de abril. As escolas raramente promovem discussões críticas e construtivas sobre o papel da cultura portuguesa na formação do Brasil, muito menos estimulam um sentimento de pertencimento e de herança comum.


Como podemos esperar que a Comunidade Luso-Brasileira se sinta parte ativa da história, se o próprio Estado falha em lhe oferecer um espaço digno de memória e valorização?


Na Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil temos procurado reverter essa lógica. Acreditamos que o fortalecimento dos laços luso-brasileiros não deve ser apenas retórico, mas efetivo, ancorado em políticas de integração, de reconhecimento e de intercâmbio permanente — comercial, educacional, cultural e social.


Hoje, portanto, não devemos apenas lembrar o passado. Devemos projetar o futuro. E este futuro exige que reconheçamos o tamanho, a importância e o potencial da Comunidade Luso-Brasileira. Que deixemos de tratar o 22 de abril como uma nota de rodapé e passemos a honrá-lo como capítulo central da nossa identidade compartilhada.


Porque, no fundo, não se trata apenas de uma data. Trata-se de reconhecer quem somos. E de onde viemos. Para então, juntos, sabermos aonde podemos chegar.


Carlos Alberto Lopes

Presidente da Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil


Artigo publicado no site Agência Inconparáveis

 
 
 

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